O recado dizia que ele iria sair com a família, bebericar com os amigos, talvez até dançar pensando nela, e que o único cuidado que iria ter é de não falar seu nome para mulher errada. Ela riu, riu muito, gargalhou como louca. Sentira amarga a boca, enjôo e dor.
Aquele dia ela queria uma mentira, mas porque ele tinha esta terrível e irritante mania de falar a verdade? Ela irada, levanta-se daquele desconfortável sofá falando sozinha: Porque eu deveria saber onde ele irá? Porque ele me avisaria que iria embriagar-se de vinho e dançar, se hoje eu queria outros ritmos?
Mas havia se esquecido que era a amante e amantes ficam sós aos finais de semana.
Foi decidida tomar seu banho, mais rápida que nunca. Enrrolou-se na toalha branca, untou seu corpo com óleos aromatizantes, vestiu a langerie nova que comprara para o próximo encontro, jogou por cima fina seda preta que lhe contornava as curvas, aquele decote profundo que deixava à mostra as rendas de seu sutiã.
Colocara seus brincos combinando com a pulseira, sandálias de salto altíssimo que deixavam seus pés expostos, maquiou-se, perfumou-se e apressadamente pegou sua bolsa modelo envelope, tomou em suas mãos a chave do carro e saiu.
Alta velocidade, música a estourar os tímpanos, sem destino percorreu a cidade que brincava de viver, nos bares, nos clubes, nos shoppings lotados de maridos, mulheres e filhos, burburinhos de motores e faróis acesos.
Ainda num transe de ira, ela estaciona num desses pubs bem frequêntados e solitária desce do carro, entra, vê-se imediatamente atendida por um maitrê que a indica uma mesa. Decide sentar-se num canto escuro. Lá vai ela, como se passeasse em meio aos olhares famintos dos maridos com suas esposas, aquelas de todos os finais de semana.
Música ao vivo suave, de um jeito que se podia ouvir a conversa nas outras mesas. Ela chama com elegância o garçom, pede a carteira de vinhos, escolhe aquele que talvez ele bebesse com ela, pede duas taças e espera. O garçom trás o pedido e pergunta: A senhorita está esperando alguém?
Com lágrimas nos olhos, sorrindo, responde: Não. Pode servir as duas taças, hoje eu vim brindar sozinha.
Ele faz o que ela pediu e sai sem entender nada. Ela vai bebendo suavemente as duas taças, serve-se até esvaziar a garrafa, sem saber quanto tempo se passara desde que ouviu aquele recado em sua caixa postal.
Saiu dali entorpecida pela música, pelo vinho, pela noite de mais um fim de semana tão filial, sabendo que ele estaria entorpecido pela música, pelo vinho e pela noite, indo fazer amor com sua matriz de todos os dias e, quem sabe, pensando nela.
Ela não era uma mulher vulgar. Apenas apaixonara-se pelo homem errado, na hora errada. Sendo ele o maior amor que já tivera sentido.
Era apenas a amante do homem mais certo que houvera conhecido, por quem devotou sua mais verdadeira fidelidade.