A amante

31 de março de 2010

Aquele recado em sua caixa postal chegara na hora errada. Ela havia esperado o dia todo, ali no lugar de sempre, mas esquecera que era final de semana. Que nos finais de semana não teria com quem passar suas horas mais felizes.
O recado dizia que ele iria sair com a família, bebericar com os amigos, talvez até dançar pensando nela, e que o único cuidado que iria ter é de não falar seu nome para mulher errada. Ela riu, riu muito, gargalhou como louca. Sentira amarga a boca, enjôo e dor.
Aquele dia ela queria uma mentira, mas porque ele tinha esta terrível e irritante mania de falar a verdade? Ela irada, levanta-se daquele desconfortável sofá falando sozinha: Porque eu deveria saber onde ele irá? Porque ele me avisaria que iria embriagar-se de vinho e dançar, se hoje eu queria outros ritmos?
Mas havia se esquecido que era a amante e amantes ficam sós aos finais de semana.
Foi decidida tomar seu banho, mais rápida que nunca. Enrrolou-se na toalha branca, untou seu corpo com óleos aromatizantes, vestiu a langerie nova que comprara para o próximo encontro, jogou por cima fina seda preta que lhe contornava as curvas, aquele decote profundo que deixava à mostra as rendas de seu sutiã.
Colocara seus brincos combinando com a pulseira, sandálias de salto altíssimo que deixavam seus pés expostos, maquiou-se, perfumou-se e apressadamente pegou sua bolsa modelo envelope, tomou em suas mãos a chave do carro e saiu.
Alta velocidade, música a estourar os tímpanos, sem destino percorreu a cidade que brincava de viver, nos bares, nos clubes, nos shoppings lotados de maridos, mulheres e filhos, burburinhos de motores e faróis acesos.
Ainda num transe de ira, ela estaciona num desses pubs bem frequêntados e solitária desce do carro, entra, vê-se imediatamente atendida por um maitrê que a indica uma mesa. Decide sentar-se num canto escuro. Lá vai ela, como se passeasse em meio aos olhares famintos dos maridos com suas esposas, aquelas de todos os finais de semana.
Música ao vivo suave, de um jeito que se podia ouvir a conversa nas outras mesas. Ela chama com elegância o garçom, pede a carteira de vinhos, escolhe aquele que talvez ele bebesse com ela, pede duas taças e espera. O garçom trás o pedido e pergunta: A senhorita está esperando alguém?
Com lágrimas nos olhos, sorrindo, responde: Não. Pode servir as duas taças, hoje eu vim brindar sozinha.
Ele faz o que ela pediu e sai sem entender nada. Ela vai bebendo suavemente as duas taças, serve-se até esvaziar a garrafa, sem saber quanto tempo se passara desde que ouviu aquele recado em sua caixa postal.
Saiu dali entorpecida pela música, pelo vinho, pela noite de mais um fim de semana tão filial, sabendo que ele estaria entorpecido pela música, pelo vinho e pela noite, indo fazer amor com sua matriz de todos os dias e, quem sabe, pensando nela.

Ela não era uma mulher vulgar. Apenas apaixonara-se pelo homem errado, na hora errada. Sendo ele o maior amor que já tivera sentido.
Era apenas a amante do homem mais certo que houvera conhecido, por quem devotou sua mais verdadeira fidelidade.

Uma noção descabida

22 de março de 2010

É uma noção descabida saber-te com ela agora, neste preciso momento enquanto eu, a repelida, governo, em grande senhora, o reino do retraimento.
O que fizeste comigo? "A lâmina quer cortar-me, lavar-me deseja o mar." Não procuro um abrigo embora eu ouça o alarme e uma bomba a sibilar.
Porque não posso ela ser, a que oferece neste instante para ti sua afeição e que conhece o prazer de perceber-te aceitante, não vendo que é só ilusão?

Amor em estado bruto

19 de março de 2010

O meu amor é algo complicado, pois é engenhoso, insubmisso, astuto. É um segredo ainda não revelado. Misterio vago, irresoluto.
O meu amor não é condicionado, ao descompasso que do peito escuto. É diamante ainda ilapidado. Feito jóia em seu estado bruto.
E este amor que tanto desconheço, que ora me eleva, ora me subestima. Por qual me alegro e por quem padeço.
Que me derrota e que me põe por cima, é o sentimento do qual pago o preço, de ficar horas pra achar-lhe a rima.

Camuflada na noite

18 de março de 2010

Meu corpo negro, na noite escura se camufla, orvalhado de desejos, mais parece uma fonte a jorrar.
Meus olhos negros, na noite escura se camuflam, marejados de lágrimas, mais parecem estrelas a brilhar.
Minha vida misteriosa, na noite escura se camufla, fingindo ser pedra sem coração, acabei sendo seu altar de petições.

Destino

17 de março de 2010

Não sei se você se lembra daquela vez que me disse:
- Ah, se nós tivéssemos nos conhecido antes...
Não sei se você falou sério ou se foi só pra me agradar, mas você não imagina o quanto essa frase ecoa na minha cabeça. Não faz ideia de como isso me afeta.
Ah, como eu queria tê-lo notado antes, como eu queria tê-lo como namorado, estar em seus braços sem medo. Tenho certeza que eu jamais iria querer outro alguém.
Mas o destino não quis assim e só a pouco nos esbarramos. Nada mais me importa. Também tenho certeza de que ainda viveremos muitas coisas boas juntos. Mesmo que não seja agora.
A nossa hora, o nosso dia, ainda vai chegar.

Dança comigo?

16 de março de 2010

O dia passou, foi embora. E eu, quase uma senhora, passei muito tempo presa nesta cadeira, tentando achar alguém pra falar besteira. Agora vou dar o braço pra ilusão e sair valsando pelo salão. Me dá o prazer desta contradança? Esquece minha aliança e me arraste pela mão. Vou entrar no mundo da magia e viver minha fantasia. Vou rodopiar como um pião, passear na pista da emoção. Toca a música, maestro. O par... Eu sequestro. Pode dizer que não presto, que se dane o resto. Dentro dos seus braços, perdida nos seus abraços. Nesse momento, sou leve como o vento, pois você me ensina e eu, me sinto uma menina.

Incandescer

15 de março de 2010

Os poros cintilando em novas cores. A vida despertando novos amores. Eu olho ao redor e não vejo nada, eu fecho os olhos e sou sua namorada. Tropeço, caio, me perco na estrada. Perco no jogo com carta marcada. Marco bobeira, te deixo ir longe. Me faço de difícil, te olho, te cheiro. Eu saio nas ruas, vejo o horizonte, mas meus caminhos nunca estão prontos. Meus caminhos nunca serão prontos.
Pelo ar ou mar, na imensidão eu vou achar, eu vou chegar. Muito além dos meus sonhos posso ir e possuir toda a luz, todo o brilho que a manhã tenta apagar e divagar... Cintilar esse riso bom, riso sem som. Riso de amar.

De asas e raízes

14 de março de 2010

Tenho asas. Elas me alçam do chão de mim mesma. Levam-me leve por entre sonhos, caminhos errantes, à procura do mundo distante de onde vim.
Tenho raízes. Elas me entranham no chão de mim mesma. Levam-me seiva por entre dias e noites, fluidos constantes, à procura do mundo real onde não estou.
Com asas e raízes mergulho fundo. Tenho cicatrizes em brasas, matrizes rasas que me desvelam no vão de mim mesma.

Do fato ao ato

13 de março de 2010

Eu era a sede, você era a fome. Eu era a cruz, você era a alma. Nosso desejo foi o mais terrível e curto. O mais revolto e ébrio. O mais tenso e ávido. O mais abstrato e real. E desde então não sou mais dor. Você é meu milagre. A boca mordida, os beijos famintos, a fome e a sede saciadas. As palavras nos lábios, a alma na boca. O destino traçado. Minha cúpula sagrada, meu amor.

Um príncipe encantado nada perfeito

12 de março de 2010

Às vezes fico aqui sentada na beirada da cama pensando em como o amor é algo estranho e ao mesmo tempo alucinador. Ao contrário do que a maioria das pessoas acreditam, o príncipe encantado não é aquele moço charmoso que faz o trânsito parar, nem muito menos aquele que sabe todas as palavras do Aurélio. O amor nasce sem ver cara, aparece como quem não quer nada e quando nos damos conta ele já está sentadinho na mesa compartilhando um pedaço de pão e tomando uma xícara de café. Seria até estranho se o príncipe encantado fosse realmente perfeito. Imagina acordar todos os dias e não ver a remela no olho dele, nem o cabelo bagunçado ou até mesmo o mau humor matinal? Já pensou se ele só andasse engomadinho, de sapato social e nunca conhecesse a língua coloquial? Realmente, sendo assim, acho que seria mais um chato desencantado. Onde já se viu não poder dar altas gargalhadas, se lambuzar feito criança com o sorvete de chocolate, correr no meio da rua, ou até mesmo gritar quando der vontade? É por isso e por um milhão de coisas mais que príncipe encantado perfeito é só em conto de fadas. Mas, não se desespere... o amor da sua vida, aquele atrapalhado e esquecido, também pode te proporcionar o Felizes Para Sempre!

Alma perdida

11 de março de 2010

De vez em quando a melancolia se instala, meu coração chora, um horizonte cinza se faz presente, ofuscando-me a visão de tí. Como se eu andasse em uma corda bamba, perdida e suspensa em busca de mim e você apenas observasse o desfecho do meu destino, calado, insensível. Mas mesmo assim eu te amo, meu peito apertado fica buscando imagens e lembranças e o meu corpo em pedaços se aniquila, lamenta tanta indiferença, diante de uma realidade sem vida, porquê não há nada sem a tua companhia, apenas um fria lembrança. A esperança se vai com a tua indiferença, enquanto lamenta meu sofrido coração e nada vale para mim sem este meu sentimento que alimenta o ser, paixão. Nada mais importa, se não tenho a ti, amado meu. Minha doce ilusão, de acordar a seu lado, pedaço do meu coração...

Não desperdice assim o seu coração

10 de março de 2010

Eu queria solidão, pra não ferir os outros e nem ser machucada. Ando cansada de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis. Tenho ainda muita coisa pra arrumar. Promessas que me fiz e que ainda não cumpri, palavras que me aguardam o tempo exato pra falar, coisas minhas que talvez você nem queira ouvir... Sinto falta das coisas fáceis de sonhar e minhas piores dores são palavras que não posso dizer. Mas foi numa noite estrelada que eu descobri que nada é tão assustador quanto o amor que vejo em seus olhos. Amor que pesa uma tonelada, devotado a mim como uma maldição.
Não desperdice assim o seu coração.

Sozinha

9 de março de 2010

Sozinha sigo minha jornada, buscando na rotina me entreter. Levo no coração a sua imagem amada que me serve de motivo para viver. Sozinha realizo o que é preciso, tentando não parar para pensar. Disfarço a tristeza num sorriso pra que eu possa sua ausência suportar. Mas quando me recolho em meu leito, deixo a alma livre passear pelo espaço, sinto a saudade apertar meu peito, lembrando o calor do seu abraço...

No silêncio da madrugada

8 de março de 2010

Ao silêncio amigo da madrugada me entrego. Quando todos se calam, descansam e dormem... Vou dedilhando ao piano toda minha angústia, esse amor louco, a vontade desse homem... Já não é amor, é doença, pura demência. Na madrugada deixo que as lágrimas banhem meu rosto. O grito de amor engulo seco, peito aberto em chagas... Ah... Covardia idiota, até quando serei cativa? Pedaço de mim, fantoche do destino, escrava... Até quando suportarei o vulcão, a labareda? Seguir sendo nada, minha própria madrasta... Ele é meu dia, minha noite, minha alma. Senhor do meu corpo, do meu sangue. Meu segredo mais lindo, cruel, assassino... Que nega o calor, a felicidade desse instante. No silêncio da madrugada, fantasio seu toque, sorvo em seus lábios o vinho mais suave. Rasgo a partitura maldita, me atiro na cama e, no sonho, te tenho entre os lençóis de seda...

Doce inquietude

7 de março de 2010

Ainda não se sabe exatamente o que é esse sentimento que veio chegando aos pouquinhos, sem ser percebido, pelo menos não do jeito que era para ser. Mas é algo definitivamente grandioso! E como é bom sentí-lo... Ah, isso sim.
O carinho que sinto é imenso, a saudade insuportável! Saber que não posso estar com ele gera uma sensação de impotência tão forte que me sinto absurdamente pequena.
O que era para falar, já foi falado (tirei um peso enorme do meu peito).
O que era para fazer, já foi feito (pelo menos da minha parte, apesar da demora em agir).
Agora, o que me resta é esperar... Será?
Já não sei mais.

Flores de inverno, neve de verão

5 de março de 2010

São estes os ínvios caminhos, os ditames do coração, onde medra a saudade nas flores de inverno, neve de verão. Pois quando a paixão domina, o relógio anda ao contrário, não sabendo eu bem o que fazer. Pois as estrelas trocam de lugar e de nada me serve o astrolábio. Que me serve para ver qual a tua posição no firmamento do meu ser e por isso ando perdida, tentando saber, tentando perceber... Quais as cores com que te hei-de pintar. Se acabo esse quadro ou se a meio deixo ficar. E se calhar... Assim ficará. Pintura inacabada. Para a posteridade, possivelmente finalizada no futuro por alguém que perceba mais de amor do que eu... Pois eu estarei em qualquer lugar, se calhar. Algures no céu, contemplando a perene imensidão, olhando o que deixei pra trás... Flores de inverno, neve de verão.

Hoje choveu

4 de março de 2010

Na última chuva eu brinquei de atravessar a rua contigo... Toquei teu corpo para te sentir e saber do teu calor, para olhar-te nos olhos e ver se o teu coração batia por mim.
Na última chuva eu cheguei em casa sorrindo.
Hoje choveu e eu atravessei a rua sozinha... Escorreguei na calçada para sentir minhas pernas e saber do chão, para me olhar caminhando e ver se ainda sei andar por mim.
Hoje choveu e eu cheguei em casa pensando.
Há pequenos passos para acompanhar os teus e, nos mesmos pés, há passos para acompanhar ninguém. Somente atravessar ruas, furar o trânsito, correr de um lado para o outro fastigando as minhas pernas e parar para sentir saudades tuas, no tempo que andavas comigo esses mesmos caminhos.
Hoje choveu, eu atravessei a rua sozinha e me perdi no caminho...
Hoje choveu e eu cheguei em casa chorando.

Medo de amar você

3 de março de 2010

Não quero lembrar o quanto tive medo. Não quero escutar os gritos do meu apelo. Não quero ver em meus olhos algum receio de estar diante de mim e saber que não me conheço. Não quero mais ver seu rosto no espelho. Não quero mais ter seu corpo como modelo. Não quero pensar no gosto do teu beijo. Porque quando te vejo não consigo esconder meu medo. Se tento te esquecer, na luz do dia me aqueço. Disfarço de todos os jeitos meu desespero... Desespero de estar sem você, de sufocar meus desejos. Mais meu maior desejo e não ter medo de dizer, com todo meu desespero, que o meu maior medo é amar você.

Vou fugir de mim

1 de março de 2010

Vou fugir de mim, entregar-me a ilusão. É tão triste viver assim, brigando com a realidade e a razão. Vou entorpecer a dor, a mente quero embriagar, para enganar o amor que não me deixa ser feliz. Vou sair por aí, ofuscar meus pensamentos, fingir que nada sinto, ludibriar meus sentimentos. Preciso dar um tempo, para refletir o que fazer. Esta dor do momento, engana-me astutamente e só me faz sofrer.