Antes de ir pra casa

23 de fevereiro de 2010


Sentei-me contra o balcão, o bar ainda não estava completamente apinhando de pessoas boêmias, Aproveitei o raro silêncio e pedi ao garçom uma taça de vinho e um pedaço de papel. Gentilmente, ele me atendeu sorrindo, e eu comovida pelo seu favor, tive a audácia de lhe pedir uma caneta. Mais uma vez fui correspondida e diante de tudo e de todos, passei a redigir uma crônica, que nascera dentro do meu coração. Pensei em narrar os fatos que marcaram o mundo. Pensei em colocar no papel, a minha louca vontade de sumir do meu país. No entando, antes de eu vestir meu casado e voltar para casa, penso em escrever sobre a solidão que me acossa agora. E de como a chuva poeticamente cai sobre a cidade, assustando os desavisados e cativando aqueles que já estão enamorados. Não quero desprezar minhas palavras com opiniões daqueles que nos fazem sofrer. Minha intenção é pontuar a sutileza da noite chuvosa, que se projeta para mim. Tomo mais um gole do meu vinho e acendo um cigarro. Levanto a mão e peço ao garçom para finalizar minha conta. Enquanto espero, escrevo as primeiras palavras num lenço de papel. Em seguida, retiro do bolso interno do meu casado algumas cédulas e as reservo para o pagamento. Tétrica, deixo o bar. A chuva que antes parecia mansa e delicada se tornara avassaladora. Ergo o capuz do meu casaco para proteger minha cabeça do vento frio, mas tenho uma sensação boa ao receber seu beijo em minha face pálida. Já não me importo, caminho em passos curtos, ouvindo o 'toc toc' do meu sapato se encontrando com o chão molhado, somente para sentir cada pingo de chiva inundar minha alma. Afasto o tédio, contemplo as nuvens que seguem ligeiras rumo ao sul. Distraída, molho meus sapatos numa poça de lama. Um mendigo ri e mim, aceno um adeus para retribuí-lo. E, sem olhar para as horas, que correm para transformar meu presente em passado, caminho na direção de um táxi e peço para ser levada até a minha casa.

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